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Showing posts from 2013

Súplicas

Ela orava fervorosamente todas as manhãs naquela mesma capela.O povo da cidade até conhecia os seus passos.Não houve um só dia de calor.Alguma tempestade ou vento forte que a privasse do ritual.Foram tantas temporadas de fervor.Lágrimas implorando por um milagre.Somente um milagre a poderia salvar de todo o seu martírio.Maria da Capela alguns a chamavam pelas ruas das cidade.E ela com o olhar sempre perdido e um leve sorriso nem se importava.Cumpria sua penitência .Como quem busca o inatingível.E o tempo imperou.E naquela manhã de  outono .Aquela fiel mulher não aparecera.Burburinhos surgiram.Onde estaria a Maria da capela? Já aproximava-se o cair da tarde. E meia dúzia de curiosos encaminharam-se para a sua casa.O que de tão grave a impediu a sagrada visita matinal?O que teria feito Maria nessa manhã outonal?E ao chegar na ladeira que dava para sua casa.Uma intensa fumaça foi sentida e avistada.E a casa onde Maria morava estava completamente carbonizada.E em um dos cômodos ao lado

Luto na alma

  Mesmo com o belo dia de sol.Ela enclausurou-se em seu sombrio quarto.E resolveu por fim que seria um dia de luto.Todos a chamaram por várias vezes para a festa.Mas a dor da perda latejava ainda em seu coração.E nenhuma canção poderia abrandá-la.Jovem e solitária.Rica e infeliz.Nenhum vestígio de felicidade restou-lhe no olhar.Uma espécie de feitiçaria ocupou-lhe a alma.Tal qual punhal cortante e visceral.Não pôde resistir ao baque que a vida ofereceu-lhe em bandeja de prata.Taças de cristais.Luas encantadas por todas as fantasias mundanas.Adormeceu ao som da chuva fina que batia em sua janela fechada.Vontade explodindo de fugir para os dias que escaparam -lhe sorrateiramente.

Trem da vida

  O trem já estava com alguns minutos de atraso.E seus olhos cheios de lágrimas. Não via a hora de partir. Para tentar uma nova vida em um lugar desconhecido.Quem sabe ali poderia esconder um pouco das suas angústias? Ou mesmo esquecer as partes mais tristes que vivera nas histórias daquela maldita cidade.Que tirara dela o amor pela vida.E o brilho sutilmente luminoso que existia em seu olhar.O trem já chegando.Malas postas uma a uma no bagageiro.Sensações de alívio e pesar misturam-se em seu coração.E segundos antes de adentrar o vagão.Consegue perceber a grande dúvida da sua vida:que dor está doendo mais? A dor do que já teve e perdeu ou do que não teve e jamais perderá? E constatar que perdeu completamente o encanto da espera.E que agora nada mais ela possuia.

Louca de amor

  Se partiu para um outro romance.Ele nem ao menos percebeu.Aquela mulher mergulhava tão fundo em seus amores.Que era quase um misto de loucura e desespero a dor que sentia ao findar uma história.Mas o fantasma do jovem homem a perseguia por todos os cantos .Embora para ela fosse apenas mais uma descartada de sua imensa lista de mulheres seduzidas.A marca daquele amor cravou feito amolada faca no seu peito de mulher que ama de verdade.Roupas espalhadas pelo quarto.Copos quebrados com doses que ela nem mesmo provou.Seu telefone a tocar sem ser atendido há mais de duas semanas.A solidão a levava ao poço profundo da armagura.O cheiro dele estava no ar.As mãos dele em seu corpo.E a voz suave em seus ouvidos repetindo palavras.As que ela tanto gostaria que não tivessem silenciado de seus lábios de homem insensível.

Amor no espelho

  Entre tantos espelhos já mirados.Aquele teve algo de mágico.Era uma noite maravilhosa e os brindes já tinham sido feitos.O vinho era da melhor safra e os aperitivos requintadíssimos.O que mais poderia faltar? Os olhares ao se cruzarem transmitiram a paixão e o amor .Todos os instantes deveriam ser vividos como preciosos.Foram muito anos esperados para aquele encontro.A música tocando suavemente tornou o clima ainda mais propício.Foram noivos numa primavera da década de 90.Mas muitas pessoas e fatos os afastaram cruelmente.Lisa era o apelido que ele dera a ela.Apesar de toda a família sempre a chamar por seu noe de batismo.Beatriz Lisandra.A nobreza que a envolveu a vida inteira a fez soberba.Mesmo com tanta pompa.Cultivou o ar de menina e o coração sangrando de amor por Leonardo.Gentilmente chamado por Leo.Seu rosto não era mais de um rapaz.A barba grande já estava grisalha.E o seu sorriso era menos brilhante.Ao sabor do vinho e entre o calor da vontade de se

Asas de anjo

  Pouco lhe serviram as asas.Tudo levava ao rosnar da estranha e conflitante realidade Podia mesmo pressentir o que acometeria.Mas arrebatar todo aquele mal seria impossivel. Todas as tormentas e conflitos o feriram terrivelmente.Rumores ou simples gestos de tantos transeuntes o incomodavam mais e mais.Apontavam para ele como se tivesse que salvar o mundo. Abrigar dentro do peito todas as dores.Mas ele derramou uma comovente lágrima e bradou solenemente: __Eu não dou Deus!!!

Tolice

  Fala tranquilamente com ela.Não percebe que tudo que dizes é inteligível ou inatingível até? Ela adormece numa atmosfera ano luz da sua.E só enxerga a neblina das aparências.Que ouve apenas os clamores do seu egoísmo.Em torno do seu umbigo ela constriu um mundinho tão tolo.Parece que uma roda gigante a tonteia.Permanecer nessa estrada do não chegar a lugar nenhum é sua meta.Alienada então .Na tentativa de anestesiar  a dor de ter que encarar a vida de frente.

Outras notas

  Foi um certo tom musical um verso incontido de música .Que foi pouco a pouco o deixando alucinado.A música tem mesmo esse poder.Feito substância inebriante que aproxima. Falou de amor de carinho e de sonhos.Mas o coração feito pedra estava mesmo bem longe.Pousou entre as notas musicais e beijou intensamente a amada noturna.Que ao amanhecer estaria em outra viagem.Com poucas bagagens nem conseguiu refletir.Entre a carência e o vício.Fechou as possibilidades do infinito e entregou-se aos delírios que há na música.

Corpo & alma

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Apegou-se tanto àquele amor.Que dia após dia esperava por ele na porta daquela casa de praia.Onde o cenário era tão perfeito.Que as lágrimas escorrem convulsivamente dos seus olhos só de imaginar o fim.Amor daquele jeito tinha cheiro e gosto de eternidade.Mas a profecia das mal amadas conspirou contra Ananda.Transformando o seu doce sorriso em amargo .Suas mãos que sempre dançavam ao acampanhar o seu amado em suas músicas agora estavam paralisadas.Julgava-se imperiosa.Dona de um palácio que jamais ruiria.Ananda a rainha soberana que reinaria ali para sempre com seu amado.Agora subjulgada a todo o desencanto que há na perda.Uma dor que entra pelos poros e não sai nem do seu corpo e nem da sua alma.

Sem saída

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Sentindo-se engaiolado naquela situação.Sempre foi um homem sensato.Cultivava o hábito de ser livre desde criança.Mas dentro daquela história havia algo que o sufocava terrivelmente.A vida pregou-lhe uma peça.Não sabia a quem recorrer.Isolara-se de todo o mundo desde que conheceu Alessandra.Uma mulher poderosa que sabe dominar a todos que a rodeiam.E ele tornou-se sua presa há três verões em Londres.Ela fazia parte de um grupo de amigos que os apresentaram.O que havia nela que o deixava sem reação?Onde estava aquele homem que sorria ? Tinha amigos e amores com alegria e tranquilidade.Teria mesmo que partir naquele lugar sem dizer nem ao menos um adeus.Caso contrário estaria negando para sempre o seu direito de viver a vida em sua plenitude.

Clausura

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Era quase um silêncio assustador.Porque ainda ouvia os estrondos de seu medo ecoando em seus ouvidos.Vozes vindas de outras épocas.Palavras que ficaram cravadas nas interrogações do tempo.Deveriam ter sido ditas ou acorrentadas mesmo na prisão da indiferença?Enclausurou-se naquele convento por ter perdido todo o contato com a sua essêmcia.Sacerdotiza ou mulher mundana? Pouco importavam os tais rótulos.Solidão e silêncio ocupavam agora sua mente aprisionada.

Fim de noite

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Na verdade são rabiscos que nasceram do simples gesto de quem tomou até o último gole das dores de amor.Embriagou-se então.Naquele bar que já havia passado da hora de fechar.O homem já quase grisalho,nem se dera conta que o seu tempo passou e arrastou seus mais doces sonhos e fez dele um bebum qualquer.Era poeta,apreciador de boa música,mas principalmente um jornalista bem sucedido,ou mal sucedido,depende da interpretação que se quiser dar.Mas o fato é que antes mesmo dos fatos serem registrados ele já os anotava e relatava em primeira mão.E quando o fim da noite chegava.Esquecia de tudo,da profissão,da família,das finanças e das crenças.Debruça-se sobre o balcão e entregava-se totalmente ao luto do seu coração.

Mergulho

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Há bem poucos dias ela encontrou a porta aberta para um grande amor.Mas nem soube como entrar nela.Foram tantas as desilusões já vividas que a dor fincou-lhe o coração e o fez sangrar horrores.Sorrisos tolos,gestos encantadores,que tornaram-se tormentos.Chaves falsas entregues por um homem que tinha na verdade um cofre no lugar do coração.E ainda por cima era um cofre vazio.E um rio é pouco para acolher as lágrimas dessa mulher.Pelo sal do gosto que escorreu-lhe na boca.Há de existir um mar onde ela mergulhe todo esse desamor.

Revelando-se

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Tentou mesmo perdoá-lo.Mas as terríveis lembranças a perseguiram por anos e anos.Então resolveu amargar no desafeto.E emoldurar todas as suas fotografias retirando os seus rostos.Ficaria mais leve não ter que rever os sorrisos que jurava serem verdadeiros.Os tantos beijos que tiveram sabores de eternidade.Olhares perdidos entre um outro clique.Todos descaracterizados por sua intervenção.Eram tantas juras de amor retratadas.Passeios a lugares maravilhosos.Cafés e doces compartilhados nas mesmas mesas.E as festas com músicas e danças registradas teriam apenas os corpos e seus traços sem identidades comprovadas.Anônimas lembranças.Repetidas doses de esquecimento.A dor não mais caberia em seus braços.E ela por fim poderia abraçar-se e perdoar-se por inteira.