Tempo e brilho

"É assim que imagino Deus, como um fino fio de nylon, invísivel, que procura minhas contas no fundo do mar e as devolve a mim como um colar"
Rubem Alves

Por que os retratos estão perdendo a nitidez e o brilho e mesmo assim ela pensa que dança como outrora?
Seu corpo não tem nem um oitavo da flexibilidade,mas rezaria mil terços para tê-lo novamente.Fluindo livre liberto do peso do tempo.Sua canção sempre tocava nas horas mais sensíveis do dia.Naqueles momentos quando todos dormiam e ela se encontrava perdida entre o espelho e o fechar dos seus olhos.E então ela trancava-se no quarto e tocava em seu piano a mesma música.Seus dedos deslizavam harmoniosamente pelas teclas.Verdades e mentiras viam-lhe nesses momentos raros de compaixão.O resto do dia ela procurava pensar no mundo que girava rapidamente a sua volta.Esquecendo a amarga realidade.Envelheceu muito mais do que as fotografias.Perdeu o brilho e a nitidez que cultivava em seus sonhos de menina.

Comments

Fred Matos said…
"Envelheceu muito mais do que as fotografias.Perdeu o brilho e a nitidez que cultivava em seus sonhos de menina."

Cronos, o tirano, continua se alimentando dos filhos.

Ótimo domingo
Beijos
. fina flor . said…
me lembrou um poema de Cecília [ou seria da Clarice? rs*] que diz: em que espelho ficou perdida a minha face.....

o mesmo ocorre com as fotografias, né?

beijos, querida

MM.

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